quinta-feira, 26 de maio de 2011

O CARRO PROBLEMA.

Por José Carlos Lazanha - Especial para o LabF5.

Se você pretende comprar um automóvel, tome todos os cuidados para não comprar um problema sem tamanho, como um grande amigo meu. Inexperiente na arte de compra carros usados, ele somente teve a preocupação de constatar se existia espaço para as suas pernas abaixo do volante e, claro, passou a ter muitos e muitos dissabores, que chegam a ser hilários.



Como ele havia concluído a faculdade no ano de 1997 e precisava de um carro para não ter problemas com o seu transporte (pois bem antes daquele ano, o transporte público em Manaus já era um caos) a solução foi comprar um carro sem entrada. De fato, o único carro que ele conseguiu comprar sem entrada, foi o tal 147, e sem entrada mesmo, pois nenhuma das suas portas abria, tanto que teve que mandar fazer um buraco no teto para poder entrar no automóvel.


O carro era tão velho que o DUT, era feito de papiro, em hieróglifos e assinado pelo faraó Tutancamon segundo a última análise feita por nosso colega Wander-lan, especialista no assunto. Para nosso protagonista, completamente cru nesses assuntos e tendo ouvido, previamente, seus amigos entendidos de que o que vale é o estado do carro e como a placa do carro era do Estado do Pará que é aqui do lado... Falou mais alto o fato de estar precisando do veículo urgentemente, assim não teve alternativa, ficou com aquilo que tiveram a coragem de licenciar como um automóvel.



Assumindo todos os riscos, não teve tempo de se adaptar com os problemas e macetes que um carro velho sempre tem; e assim, quando ele pisava no freio, o limpador do pára brisas funcionava, ao ligar o rádio, a tampa da porta mala abria, quando acionava a buzina, o vidro abaixava... Mas, se os defeitos fossem apenas esses, daria para ele levar numa boa.



Logo notou que por mais que ele acelerasse o carro, o velocímetro não saia do zero, e intrigado com isso, levou o seu veículo para o mecânico explicando lhe o defeito. Depois de desmontar e examinar a peça o dono da oficina afirmou que não havia problema nenhum com o velocímetro, era o automóvel que não andava mais que aquilo...



O engraçado é que somente após, essa frustrada quase manutenção, verificou-se que o tal carro, além da ré, possuía outras três marchas: Devagar, mais devagar e parado, sendo que, na maior parte do tempo, ficava nessa última, o que levou o seu brilhante proprietário a pensar em colocar um calendário no lugar do velocímetro, pois segundo ele, seria mais adequado pois o veículo fazia quilometros por dia, e sem nenhuma vantagem de descontos...

Por mais que tentasse justificar a lerdeza do carro a suas emendas ficavam pior que o soneto. Numa ocasião afirmou que essa falta de velocidade mudava de figura quando estava na estrada, pois ele conseguiria passar por muitos outros carros, mas esqueceu de mencionar que isso ocorria somente quando eles estavam em sentido contrário... assim fica fácil para ele até emparelhar com o Rubinho Barrichello.



Agüentar esses probleminhas do carro não seriam nada se comparados às gozações dos amigos, parentes, conhecidos e até quem não tinha nada a haver com aquilo. Numa ocasião, um deles chegou dizendo ...esse carro é para toda vida, pois não há nenhum otário para quem consiga passar adiante...Outro afirmou ...se não havia observado o alerta contido nas iniciais que identificavam o fabricante do dito automóvel: Foi Iludido, Agora é Tarde. Ainda tinha aquele engraçadinho que falava...era um carro dava para levar fácil cinco pessoas, uma dirigindo e as outras quatro, o empurrando.



Mas o cúmulo aconteceu quando teve que ir ao Centro de Manaus. Ao estacionar o carro na Avenida Eduardo Ribeiro, um daqueles muitos flanelinha que povoam aquele pedaço da cidade lhe pediu dois Reais para “ficar cuidando”. Quando nosso destemido motorista voltou e encontrou o guardador de carros emburrado e nervoso, lhe cobrando 20 Reais por seu trabalho, dois pela guarda e dezoito como indenização pela vergonha que ele havia sido submetido, pois todo mudo que passava pela avenida, ficava pensando que aquele carro era dele.



Fora essas gozações, cada vez mais vinha a certeza que a hora daquele carro estava chegando; além da sua direção estar com mais folga do que servidor público, o ato de se fazer uma curva era, além de um ato de coragem, apenas uma mera coincidência quando o carro dobrava junto com a rua. era notório quando se passava a frente de um ferro velho, o carro, profundamente, suspirava.

As despezas com peças, com o óleo que vazava, da bateria que descarregava, com o reboque, oficina, passaram a ultrapassar o orçamento desse infeliz comprador e colocá-lo próximo ao vermelho, afinal, ele passou a trabalhar para sustentar aquele carro problema, fato que cada vez mais somente confirmava o que era uma certeza: Ele não podia mais ficar com aquilo, que afirmaram ser um automóvel.



A primeira tentativa foi colocar um anúncio no jornal, e, por incrível que pareça, apareceu um comprador. O carro foi mostrado, ele o examinou e pediu cinco mil Reais para levá-lo, imediatamente, foi apresentada uma contra proposta para que ele levasse o veículo; três mil e quinhentos e a promessa de nunca mais aparecer de volta, mas por esse valor não rolou negócio.



Numa tentativa desesperada, o carro foi abandonado com as chaves na ignição num local onde se deixava o lixo para ser recolhido pela empresa de limpeza pública. No dia seguinte nosso protagonista foi surpreendido em sua casa com a chegada de um caminhão reboque que deixou na porta de sua casa, o automóvel que no dia anterior havia sido, lateralmente, vazado no lixo, junto, veio um funcionário da empresa, com um recibo de devolução e lhe pedindo encarecidamente que nunca mais fizesse aquilo, pois eles recolhiam apenas lixo, mas aquele carro era um atentado fundamentalista ao bem estar urbano comum.



Você, com certeza, está curioso em saber como o nosso herói conseguiu se livrar desse infortúnio sobre quatro rodas? Já quase perdendo a paciência e as esperanças, pareceu que as suas preces foram atendidas quando um amigo lhe deu a real de que em Manaus seria difícil vender um carro igual aquele e o aconselhou a tentar pelo interior. Seguindo essa recomendação, decidiu pegar a balsa, atravessar o Rio Negro e tentar vendê-lo em Iranduba, Manacapuru, ou outro município próximo. Foi cedo para a fila formada no porto do São Raimundo, se colocou atrás de uma van e aguardou a sua vez. Ela chegou. O funcionário que cobrava o pedágio para a travessia olhou para o seu carro, e disparou:

- Para o seu carro são quinze Reais.

Com um grande sorriso no rosto, a pobre alma aliviada daquele peso imediatamente lhe entregou as chaves do carro e na lata mandou:

- Vendido!!!





O autor deste artigo é um pseudo estudante de comunicação social, duro, a perigo e torrou toda a grana para comprar, a prazo, uma magrela por não aguentar mais andar no busão do Big Black .

Qualquer semelhança não será mera coincidência, acredite, se quiser...






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