Há eventos que deixam marcas duradouras, sensações e consequências irrevogáveis. Duas semanas após a manifestação dos alunos da Universidade Federal do Amazonas, em protesto ao aumento da tarifa do transporte coletivo, ainda posso reviver a insatisfação de todos os que foram involuntariamente envolvidos na situação. Trabalhadores, alunos, pais de família e crianças enfrentaram os incômodos de um combate que a eles não pertencia.
O engarrafamento quilométrico causado pelo fechamento dos cruzamentos da Avenida Rodrigo Otávio, que estava abarrotado de jovens universitários, disseminou estresse, ansiedade, revolta e mal estar entre os motoristas que foram impedidos de exercer os seus direitos. Como seria possível chegar ao médico na hora marcada? Qual foi o sentimento de quem não pôde cumprir os seus compromissos? Como se sentiu o filho que precisou esperar duas horas no portão da escola? Os fatigados operários do Distrito mereciam ser penalizados por motivos que não eram seus? As buzinas e os palavrões que saiam dos carros expressavam um só pensamento: “Os direitos de vocês não podem anular os nossos!”
Não menosprezo a iniciativa dos universitários que, prejudicados por uma tarifa inaceitável e absurda, anunciaram o compreensível descontentamento. Defendo, no entanto, as necessidades dos demais cidadãos que provavelmente desconheciam os motivos da desordem. A despeito da fala de um dos representantes da manifestação, nego-me a acreditar que tumulto e desrespeito sejam soluções para os seus, os meus ou os nossos problemas. Aposto em manifestações originais, dignas de estudantes do terceiro grau e que sejam verdadeiramente pedras nos sapatos daqueles que merecem senti-las. Estou convicto de que não nos falta energia e muito menos capacidade ou conhecimento. Falta-nos somente sabedoria.
Luan Crispim de Andrade
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