Por Isaac de Paula
O crescimento da produção de grãos voltada para fins não alimentícios deve aumentar ainda mais o valor da comida nos próximos anos, com grave incidência na economia de países não desenvolvidos. O dado alarmante esteve entre os assuntos da 5ª Conferência Latino Americana de Preservação ao Meio Ambiente, realizada na última semana, em Manaus.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza, Rogério Iório, o mundo já disputa comida com os carros. Iório usou a ‘briga’ por alimento para ilustrar a alta dos preços dos grãos, motivada pela destinação da maior parte desses produtos para empresas de biocombustíveis, por exemplo. Como destinar grãos para empresas dessa área se tornou mais lucrativo, muitos produtores têm investido no ramo, diminuindo as plantações voltadas para transformação em alimento.
O cenário formado vai além do superficialmente visto. Estão envolvidos nessa questão o aumento populacional desordenado, a preocupação em combater desmates – que poderiam abrir espaço para novas plantações, e o próprio capitalismo. Isso, sem contar no tema ambiental, que defende esses combustíveis à base de óleos de plantas como alternativa para o petróleo.
Números do Banco Mundial mostram bem o tamanho da equação a ser resolvida. A entidade estima que um novo aumento de 10% no preço dos alimentos colocaria, até o próximo ano, mais 10 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema. Mas a expectativa pode ser ainda pior se o atual ritmo continuar. Em 2010, a alta registrada chega a 36%, com um total de 1,2 bilhão vivendo com menos de US$ 1,25 por dia.
O Banco Mundial sugere que, para combater o problema, é preciso priorizar o uso de grãos para a alimentação, em detrimento de biocombustíveis. Mas com as atuais revoltas no Oriente, que colocam ainda mais xeque a dependência do petróleo, achar esse meio-termo é cada vez mais complicado.
Segundo Robert Zoellick, presidente da entidade financeira, os preços altos e voláteis dos alimentos são hoje "a maior ameaça aos pobres ao redor do mundo". As vítimas são aqueles que não estão na “briga” - justamente por não possuírem dinheiro para comprar um carro-, mas são os que mais sofrem com ‘a tal da inflação’.
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